2005/06/09

VELHOS

Os velhos passeiam-se pela vida vendo desprezado todo o seu saber acumulado.
Os velhos cruzam-se connosco e alheamo-nos da riqueza da sua existência.
Os velhos não são novos, bonitos, imbecis e por isso passaram de moda.
Os velhos vêem as suas referências serem destruídas em nome de um progresso que tarda a chegar. (Deixem-lhes ao menos um cantinho no jardim que lhes recorde a infância e a tareia que levaram por sujar o seu fato domingueiro!!!)
Os velhos perturbam-nos pois fazem-nos revelar a nossa crueldade.
Os velhos são enfiados em locais mais ou menos luxuosos onde têm tudo menos aquilo que precisam.
Os velhos são calados, impedidos de nos fazer conhecer o nosso passado, o nosso presente.
Os velhos estão cansados e incrédulos pois é isso que favorece a nossa ignorância.
Os velhos olham o céu e não conseguem resistir à alegria de o sentir igual.
Os velhos são velhos e por isso vêem de perto aquilo que nos parece longe.
Os velhos são tolerados e entretidos com caridades burlescas que os deprimem.
Os velhos são ridículos quando os tentamos ou quando se tentam transformar em novos.
Os velhos são seres assexuados pois ninguém se rala com a sua sexualidade.
Os velhos não têm saída pois todos os caminhos se lhes fecham.
Os velhos são o nosso futuro mas recusamos vê-los como isso.
Os velhos são tristes pois ninguém se alegra com a nossa intolerância.
Os velhos repousam espalhados ao sol à espera de algo que nunca vai chegar.
Os velhos são desperdiçados.
Os velhos são traídos.
Os velhos são desprezados.
Os velhos são os velhos.
Os velhos somos nós.