2005/06/09

MEDO

O medo espreita constantemente e transforma-nos em autómatos da sua vontade.
O medo é a mordaça da nossa liberdade.
É o medo da insegurança que nos limita a liberdade de movimentos quando queremos caminhar errantemente pela cidade.
É o medo do que comemos que nos obriga a abdicar dos sabores mais apetecíveis.
É o medo dos nossos instintos que nos podem fazer perder tudo para sempre.
É o medo da nossa revolta que nos leva aceitar injustiças e arbitrariedades.
É o medo de ter medo que provoca a nossa inércia e a nossa resignação.
É o medo de não ter medo e fazer com que a imagem invencível se desmorone.
É o medo da mudança que nos acomoda a situações indesejadas.
É o medo dos terroristas, dos pacifistas que nos fazem abandonar princípios e causas.
É o medo da velhice, da juventude, da morte, da vida…
É o medo como forma de negócio para nos proteger dos medos.
É o medo do escuro, do claro, do dia, da noite, da água, do fogo…
É o medo da guerra, da paz… de tudo…
O medo instituiu-se como um sinal de avanço e desenvolvimento. Uma sociedade sem medo será, talvez, perante os olhares de alguns, uma sociedade ignorante e sem interesse. Os tabus tornaram-se familiares e são assimilados como algo irreversível. A ausência de uma vontade aguerrida que ultrapasse tudo isto invadiu o nosso quotidiano e transformou-nos em seres sem causas e sem princípios. Uma sociedade com medos permite tudo em nome da placitude que é não os ter. São permitidas arbitrariedades, injustiças por parte dos que em nome de princípios edificantes criam sempre novos medos. Somos educados no sentido do medo. As doenças, a droga, o álcool, os acidentes rodoviários, a alimentação são medos universalmente aceites e, aproveitados por interesses sombrios, ofuscam por completo os nossos desejos e a nossa condição humana.
Será que alguém se alimenta dos nossos medos?