2005/06/09

CIDADE

A cidade é o encontro de todas as ambições, aspirações, desilusões…
A cidade é bonita: às vezes por dentro, às vezes por fora.
A cidade é bonita de dia.
A cidade é bonita de noite.
Mas a quando a cidade ainda é mais bela, é na Primavera, ao princípio da noite. É nessa altura que se mostra no seu auge de local onde a vida consegue flutuar. É nessa altura, quando os stressados do dia já se foram embora e quando os stressados da noite ainda não chegaram, que ela se mostra elegante e distinta. Nesse momento, sobram na cidade os despreocupados e é com eles que ela realmente se sente bem. É bom poder circular na rua e andar mesmo nos lugares mais inabituais sem a inquietação de olhar preocupadamente em todas as direcções. Ao iniciar a noite, podemos ser donos da cidade e recordar-lhe que ela nos pertence e que, apesar de nos zangarmos com ela noutras alturas, não é com ela que no zangamos mas com aqueles que abusivamente a usam e a tornam insuportável. Para possuir o direito de cidadania deveria ser possível medir a capacidade que cada um tem de a amar desinteressadamente. Assim a cidade viveria mais alegre e teria capacidade para nos sorrir a qualquer hora. Não, não seria um sorriso de circunstância, mas um sorriso de amor que é o melhor e o mais sincero dos sorrisos. Olhar-nos-ia nos olhos como o faz ao anoitecer e segredar-nos-ia: “Que bom é estares aqui a dar-me vida!”. Mas a cidade não vive neste conforto constante.
Tem donos que não a sabem zelar e a tratam como um meio para atingir fins que ninguém compreende quais são.
Tem usurpadores que a ocupam diariamente e lhe roubam o brilho e a lucidez com as suas atitudes desprezíveis.
Tem intrusos que a assaltam durante o dia, durante a noite e a tornam irrespirável para a idoneidade civilizada de alguém.
Tem abutres que lhe sugam o sangue e a tornam por vezes desumana.
Tem seres com interesses obscuros, que lhe fazem plásticas, movidos por interesses pessoais e lhe estragam completamente as formas e os contornos sensuais.
Tem imundos que a sujam, com o lixo que atiram para o chão e, pior ainda, com aquele que trazem dentro da cabeça.
Tem pessoas que julgam possuí-la e a desfiguram com ornamentos de gosto duvidoso, gosto esse que até é espelhado na sua própria imagem de seres que deambulam pela vida com o único sentido de ostentar a imaturidade estética que encerram.
Ao fim da tarde, quando a noite começa a tomar conta de tudo, a cidade torna-se bonita para os seus amantes
e sorri-nos segredando-nos ao ouvido que nos pertence
e jura-nos amor eterno prometendo que há-de voltar sempre bonita a essa hora
e encosta ternamente a sua cabeça nos nossos ombros dizendo-nos em cada dia num sussurro: “até amanhã”.

5 Comments:

At dezembro 28, 2006, Anonymous Anónimo said...

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At fevereiro 06, 2007, Anonymous Anónimo said...

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At fevereiro 23, 2007, Anonymous Anónimo said...

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At março 03, 2007, Anonymous Anónimo said...

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At março 05, 2007, Anonymous Anónimo said...

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