2006/01/02

VALORES

Vivemos hoje numa sociedade onde frequentemente se diz que há uma “crise de valores”. A palavra “crise” aparece associada a quase tudo e não é de estranhar que na depressão colectiva em que vivemos apareça também associada a este assunto. É certo que conceitos como lealdade, honra, fidelidade, verdade… se tornaram simples devaneios imaginários atribuídos a retrógrados e desactualizados da sociedade. Assistimos a um deflagrar de atitudes e posturas que nos levam a desacreditar na existência de valores na sociedade. O exemplo de seriedade e verdade que nos deviam dar os nossos governantes não existe e quem é hoje bom pode facilmente ser o diabo amanhã. Não precisa de fazer grande coisa para isso bastando somente uma ligeira mudança do contexto de quem faz o juízo. A conveniência e o egoísmo presidem a todos os julgamentos e, se por acaso alguém quiser fugir a esta urdidura, facilmente é marginalizado e rotulado de herege social perante os conceitos vigentes. Alinhar pelo globalmente aceite, mesmo que seja a coisa mais abjecta, torna-se urgente a cada momento para quem faz da vida um correr desenfreado em busca de protagonismo e poder, mesmo que seja ilusório e enganador. Numa envolvência onde tudo isto se torna apelativo pela embalagem embelezadora em que nos é servido, facilmente nos tornamos permeáveis e moldáveis a todos estes conceitos. Os valores volvem-se para um plano obscuro onde aparece radiante uma postura hipócrita e falaciosa. O caminho seguido, muitas vezes sem regresso, leva-nos a um vazio pois toda a nossa existência como seres humanos necessita de rumos e princípios que a orientem. Surge assim o nosso estado de infelicidade colectiva alternando, de uma forma doentia, entre a euforia e o desalento (lembram-se da Expo, do europeu de futebol, das bandeiras… não lembram?). É típico de seres sem caminhos estes sintomas de esquizofrenia colectiva. Desculpamo-nos com a nossa carga genética, com a situação económica, com o défice… não acreditando que para além disso existe vida e talvez o mais importante esteja bem longe de todas essas desculpas. A construção do nosso quotidiano também depende de nós próprios, da nossa dignidade, dos nossos valores. É aí o centro da nossa existência e quando ele não existe navegamos à deriva e à mercê de ventos e tempestades que nos levem para onde for mais conveniente a nossa destruição como seres racionais e inteligentes. Transformamo-nos numa espécie moldável a vontades e (des)propósitos alheios ilusoriamente independentes. Mas como que a acordar de um pesadelo, alguns de nós conseguimos dar um abanão na nossa existência e encontrarmo-nos connosco, num momento da vida que passará a ser então o nosso grande momento. Será que não haverá outra solução para além da resignação perante a fatalidade?

3 Comments:

At fevereiro 02, 2006, Blogger Silence Storm said...

Ola Benjamim,

já reparas-te como estás a cair vítima daquilo de que te lamentas?

Abraço

 
At fevereiro 12, 2006, Blogger Maria said...

Quando me escreveste e chamaste a atenção para este teu espaço, coloquei-o nos meus favoritos para vir ler-te logo q possível. Já por aqui passei várias vezes e li alguns dos teus posts, mas só te queria deixar algumas palavras depois de tudo lido. Acontece que o tempo é curto, os dias deveriam ter mais do q 50 horas e eu ainda não consegui tempo para ler todos os teus posts. Acho no entanto uma falta de educação da minha parte não te ter dito nada. Daí esta prosa toda! Para te dizer q do que li gostei, que alguns merecem alguns comentários em particular, e que vou continuar a passar por aqui para acabar de ler tudo e na esperança de encontrar muito mais do que doze palavras.
É tudo por agora. Vou aparecendo. Se continuares a gostar do meu canto, aparece tb.
Beijos.

 
At setembro 30, 2008, Blogger Mel said...

Nem mais... Valores perdidos, sociedade decadente.

 

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