2006/03/10

VIOLÊNCIA

A violência é-nos servida diariamente em doses excessivas com carácter de banalidade. O comportamento humano aparece recheado de soluções escandalosamente violentas, quando se trata de impor uma ideia, um modelo, um caminho. Apressadamente se começam a atribuir culpas na tentativa de desresponsabilizar os verdadeiros prevaricadores e os seus mentores. Geralmente surgem explicações mais ou menos cómodas. Os jogos de computador, os filmes, a televisão são frequentemente os bodes expiatórios para justificar comportamentos violentos inexplicáveis. Ficam de fora os motivos menos cómodos como os valores sociais ou a dignidade e o respeito pelo ser humano que teimam em ficar esquecidos na relação quotidiana.

Será que a violência dos jogos de computador, da televisão e do cinema são os inspiradores da violência quotidiana ou acontecerá exactamente o contrário?

Serão esses os responsáveis pela violência na relação dos pais para com os filhos e dos filhos para com os pais ou é aqui que vão buscar a inspiração?

A violência dos automobilistas, dos peões, dos jovens, dos idosos, dos homens, das mulheres, dos políticos, dos eleitores será o reflexo daquilo que nos é transmitido pelos “media” ou acontecerá exactamente o contrário?

Surgem ainda circunstâncias em que a “violência é urgente”. Acontece frequentemente isso em alguns órgãos de comunicação social. Todos se lembram do “arrastão” que afinal não passou de um “inventão” de alguns para, de uma forma talvez pouco inocente, alarmar-nos e tentar despoletar atitudes racistas e xenófobas.

Há a violência real, latente em algumas franjas da população. Todos nos alarmámos com os acontecimentos ocorridos em França quando milhares de jovens saíram para a rua e praticaram a destruição sem motivos aparentes, sem se moverem por ideias políticas ou fanatismos religiosos. É a violência oculta dos excluídos da sociedade que rebenta com o mais pequeno pretexto ou até sem pretexto nenhum.

Frequentemente atribui-se também as culpas à escola por não a conseguir evitar ou controlar, quando se trata de violência juvenil. É sempre cómodo procurarmos as causas dos nossos fracassos em motivos dos quais nos consideramos alheios. É uma atitude covarde e traiçoeira mas fácil. A escola, nos dias de hoje, mais do que nunca, não consegue ser mais do que um reflexo da sociedade em que se insere. O ambiente escolar é sempre feito pelos que o frequentam e esses não podem ser uma coisa dentro da escola e outra fora. A escola não pode construir o que está constantemente a ser destruído pela sociedade. Os valores e os princípios podem ser desenvolvidos aí mas têm de ser adquiridos fora dela. De famílias disfuncionais onde os interesses egoístas e as carreiras se sobrepõem a tudo, onde os afectos são deixados a cargo de pessoas pagas para isso, onde as ausências físicas e afectivas são frequentes, não poderão sair seres solidários e pacíficos.

Hoje discute-se e fala-se da violência como um problema, o que é pertinente.

Será que se equaciona esta questão da forma mais correcta e honesta?

3 Comments:

At março 11, 2006, Blogger Maria said...

A violência é realmente um tema quente em cima da mesa. Há como dizes, a violência na televisão, no cinema, nos jogos de computador, e também nos comportamentos em geral, desde os adolescentes até aos adultos, quer dentro de casa, quer fora.
Penso ser tudo uma questão de educação. Penso que tudo parte de casa. E creio que o excesso de liberdade e de permissividade que se vem dando aos jovens e crianças, está na origem do desrespeito e de algumas atitudes violentas que se notam por aí. Depois do 25 de Abril, passou-se a ter medo de proibir, talvez com receio que houvesse conotações com as ideias fascizantes. Mas esse medo de proibir fez com que proliferasse a permissividade a todos os níveis, o que teve como resultado a sociedade que temos hoje. Não estou a favor de proibições de fundo. Sou uma pessoa de esquerda, que vibro ainda hoje com a lembrança do 25 de Abril, mas entendo q tudo tem limites. A célebre frase de q "a nossa liberdade acaba onde começa a liberdade do outro" não é um conceito vão. Para mim é para levar muito a sério. Esse conceito juntamente com uma maior tolerância da parte das pessoas, tenho a certeza q conduziria a uma sociedade mais equilibrada.
Desculpa, exagerei nas considerações... mas realmente já estava em falta contigo. Farto-me de prometer q venho (e venho) mas depois não comento. Hoje tinha q ser.
Beijos para ti e bom fim de semana

 
At março 11, 2006, Blogger Maria said...

Bem, e vê lá se não ficas pelas 12 palavras... Os textos são óptimos, e importantes para reflexão.
Fica por aqui está bem!!Concerteza q encontras outras 12 palavras para continuares...
Bjs.

 
At abril 03, 2006, Blogger Maria said...

Enquanto não ultrapassas a barreira das 12 palavras... deixo-te um beijo e o desejo de uma boa semana!

 

Enviar um comentário

<< Home